Aos Leitores
Ler é um prazer. Mas só para alguns. Para quem cresceu entre livros, por
exemplo, e conquistou, a cada página lida, o gosto pela leitura. Ao mesmo
tempo, descobriu que cada livro guarda dentro outros mundos, outras pessoas,
outros lugares, outros tempos, outras memórias, outras formas de ser, de estar,
de sentir, de comunicar, de rir... E essa descoberta, intimamente ligada à
preservação da capacidade de espanto que caracteriza a infância, terá sempre
alimentado a vontade de continuar a ler. Por prazer, não por obrigação.
Não é muito diferente do que acontece com outras atividades que preenchem o
nosso quotidiano, como comer ou fazer exercício físico. Comer pode ser um prazer,
para quem desde cedo aprendeu a distinguir o sabor dos alimentos; fazer
exercício físico também pode ser um prazer, para quem cresceu a fazer
cambalhotas e pinos, a jogar à bola e a correr atrás dos amigos. É certo que
todas estas atividades, sendo à partida naturais, implicam depois uma decisão e
uma prática. No caso da leitura, essa decisão e essa prática dependem, muitas
vezes, de quem nos rodeia: das famílias, dos amigos, dos professores... Se quem
nos rodeia tiver a capacidade de nos contaminar com boas leituras, leituras que
alimentem a nossa curiosidade e estimulem a nossa imaginação, de certeza que
cresceremos leitores.
É também esse o momento em que se torna fundamental o papel do Plano Nacional
de Leitura, fornecendo coordenadas para que a leitura se torne um prazer, isto
é, sugerindo livros capazes de entusiasmar não apenas os que já são leitores,
como aqueles que ainda não são. Funciona como um mapa, útil em qualquer viagem,
sobretudo em viagens por territórios desconhecidos, e pode ser usado para
orientar leitores de todas as gerações. Assim como para dar pistas para que as
famílias e os professores saibam o que partilhar com os leitores mais novos, e
até entre si.
Essa troca — de professores com alunos, de famílias com professores, de pais
com filhos — é essencial para formar leitores e para, no meio das dezenas de
livros que são diariamente publicados em Portugal, distinguir os melhores. Só
deste modo será possível criar uma rede em que os livros, escolhidos por
especialistas, possam circular pelas mãos dos leitores, os que já o são e os
que se tornarão. A leitura implica essa prática. E essa conquista.
Com os
melhores cumprimentos,
(Teresa Calçada, Comissária do Plano Nacional de Leitura 2027)